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terça-feira, julho 31, 2007

A Força dos Nossos Pés

Desde o dia em que tu nasceste eu criei a ilusão, dentro de mim, que poderias caminhar por ti. Imaginei que colocaria teus pés sobre os meus e te levaria pelos caminhos que eu julgasse mais tranqüilos e seguros.
Dessa maneira, tu nunca feririas teus pés, pisando em espinhos ou em cacos de vidro e jamais se cansaria da caminhada, nem mesmo precisarias decidir qual estrada tomar. Isso seria eternamente minha responsabilidade! E foi assim durante um bom tempo: caminhei por ti e para ti.
De repente, o tempo veio me avisar bruscamente que essa deliciosa tarefa não faria mais parte dos meus dias. Teus pés cresceram e eu já não conseguia mais equilibrá-los em cima dos meus. Quando eu menos esperava, eles escorregaram e alcançaram o solo. Hoje sou obrigada a vê-los trilhar caminhos nos quais os meus jamais os levariam e ainda tento detê-los insistentemente, mas só raríssimas vezes consigo.
Agora só me é permitido correr com os meus junto aos teus e em certos momentos, teus passos são tão largos que quase não posso acompanhá-los. Atualmente, assisto aos teus tropeços sempre pronta para levantar-te das tuas quedas. Por vezes, tu me estendes as mãos em busca de socorro. Outras, mesmo estando estirado ao chão e ferido, insistes em levantar-te sozinho por puro orgulho ou para me provar que já és capaz de erguer-te após teus tombos e curar-te de tuas próprias feridas.
Assim, vamos vivendo e sinto uma saudade imensurável daquele tempo que precisavas de mim para conduzi-lo, pois era bem mais fácil suportar teu peso sobre meus pés do que sobre meu coração. No entanto, já consigo compreender como a vida é sábia.
Percebo, finalmente, que em algum momento tu precisaste mesmo desbravar teus caminhos independente de mim. Afinal, não tarda muito, serei eu que precisarei de teus pés sob os meus e tu só terás forças para me conduzir, porque te permiti caminhar por um bom período sozinho, aprendendo assim a difícil tarefa de viver.
Que tu tenhas a resistência necessária para suportar meu peso sobre teus pés como eu tive para suportar os teus. É bem verdade que farás isso por um tempo inferior ao que eu fiz, mas como eu, é provável que tenhas que fazê-lo com mais alguns pés sobre os teus, os dos teus filhos.
Não, claro que não é uma tarefa fácil, mas se eu consegui, tu também conseguirás, porque plantei em teu coração o melhor e mais poderoso aditivo para que suportes tanto peso:
O AMOR!
(Silvana Duboc)