Do Paredón ao Paredão
Confesso que pra dois caras da antiga esquerda (e gaúchos), saber que o filho vai entrar no BBB é no mínimo bizarro. À primeira vista, quase desconfortável. Dá uma sensação de que a vida de fato tá de gozação pra cima de ti.Porém, no momento em que, da primeira vez, ele entrou na casa, dizendo: “Alô Menino Deus!” – nosso glorioso e mágico bairro, que já inspirou até o Caetano (ôps!) quando andava por aqui – arrepiei, ó!.
E como tudo no Brasil acaba sempre virando uma grande festa, s’imbora! Foi divertido, e pensando bem, não arranhou nenhuma imagem. Muito pelo contrário. Amigos, ex-companheiros, gente que eu jamais imaginaria que visse o programa, vinham nos dar os parabéns. No derradeiro almoço, algumas horas antes de se saber que ele de fato iria entrar na casa, perguntado por alguém da produção sobre o que achava das suas inúmeras tatuagens, piercings, corte de cabelo e demais aparatos do layout, o pai não titubeou: foi pra isso que lutei!…
O muro cai, às gargalhadas. E não é que o guri volta pro BBB? Surgindo na casa daquele seu jeito, às vezes brincalhão, às vezes quieto. O jeito gaúcho. De quem não vai com toda essa sede ao pote, de quem não se afoba pra encher a meia ou a cueca com o alheio.
De quem não faz carinha boazinha na frente, e trai por trás. E os mui amadores, querendo se aproveitar, vestiram-no de mau, de arrogante, de marrento, e até de coisas piores, pesadas… E aí o povo viu.
Viu a menina vasculhar o corpo do herói em busca de marcas, sinais, signos de intolerância. Pelo Oriente inteiro abundam templos e imagens com o tal sinal. E a cruz da Klu Klux? Não vai mais ser usada pelos católicos só porque uns desvairados se apropriaram do símbolo?
Não, não foi por bobagens como essa que lutamos. Tampouco lutamos para que grupos, que lutam pelo próprio reconhecimento (e eu sempre lutei ao lado desses companheiros), tenham o direito de discriminar e jogar na lama pessoas que simplesmente não são seus iguais. Sem emitir nenhum juízo de valor. Se teve uma coisa que aprendi, dos anos de chumbo até agora, foi que só o humor salva.
Marcelo não é só nosso filho, é fruto do Pasquim, do Henfil, do Quino, do Goscinni e do Uderzo. Irreverente até o último fio do moicano, com um coração apaixonado e pronto pra ajudar qualquer amigo. Implicante, sim. No imaginário popular será lembrado como um tipo de Vadinho ou Capitão Rodrigo. Jamais um Custer ou um Capitão Nascimento. É o tipo do herói que descontrói a própria imagem a seu bel prazer. E isso incomoda.
Por via das dúvidas, as Barbies boazinhas e os Kkens são mais confiáveis… ou pelo menos previsíveis.
Marcelo sabe brincar de andar na corda bamba, e talvez nem ele mesmo saiba disso. Ontem, tendo que ir ao Mercado Público, dei de cara com o começo da grande caminhada do Fórum Social Mundial. Juro que deu uma vontade de gritar, em meio a todas aquelas palavras de ordem e vociferações contra o poder do capitalismo que se ouvia pelos mil alto-falantes: Aí, torcida do Dourado! Mas segurei. Já imaginou se o povo aplaude?…
Resumo do Paredón ao Paredão.
De: Rose Porto Alegre (Mãe do Marcelo Dourado).
(ter, 09/03/10por Adm.Blog categoria BBB, Torcida Dourado)