Hoje, a casa que tenho é tão minha...
Com suas flores bem cuidadas!
Um ninho na varanda de coleirinha,
que há tempos faz dali a sua morada!
Uma cozinha que preservei,
com paredes borradas de fumaça...
Um fogão à lenha que eu deixei,
a desafiar o tempo que passa!
Naquela cozinha por quantas vezes,
o café perfumava a madrugada...
Não demorava escutar os passos da avozinha,
a caminhar no assoalho da velha casa!
Ali era feito o melhor feijão que conheci...
Um tempero que mais ninguém acertaria!
Rosquinhas de nata e pinga nunca mais vi,
iguais a que vovó fazia!
Na grande varanda as samambaias,
em uma delas um ninho de beija-flor...
Por quantas gerações estariam eles?
Era o xodó do meu avô!
Uma rede desbotada
onde o velho tocava violão.
Quantas vezes sua voz entoava,
quebrando o silêncio da escuridão...
No quintal tem laranjeiras
e alguns pés de bacuris...
Ao canto, o velho pé de jabuticaba,
onde casei-me um dia com Sueli!
Hoje, a casa que tenho é tão minha ...
Está sempre feliz a danada!
Parece que por ela correm as almas
de toda aquela molecada...
A rua era de terra,
passava também boiada!
Hoje virou passado e
de piche foi asfaltada...
Tem noites que ainda escuto
os bois berrando...
O som triste do berrante!
Vovô, ao fundo, todo cuidadoso,
guardando as crianças no mesmo instante...
Noutras eu escuto o trem,
o barulho das rodas no trilho...
Dormia ao colo de mamãe naquele vai-e-vem
feliz e tranquilo!
Hoje, a casa que tenho é tão minha...
Engraçado! Tudo igualzinho na terceira
geração!
Amanhã serão meus filhos a sentirem saudade
doendo no coração?
Escutarão meus risos
quando o lagarto perdia o rabo?
Minha cantoria na rede,
com todos eles ao meu lado?
Minhas piadas sem graça!Afinal, nunca fui bom nisto...
A buzina do meu carro no portão,
quando chegava do serviço?
Nossas pescarias e os
Natais coberto de cores?
Pela noite fria meu fiel compromisso,
de conferir seus cobertores...
Nosso primeiro cãozinho, escutarão o latido?
As histórias de assombração,
contadas aos seus amigos...
Escutarão minhas broncas,
meu violão feito de pinho...
O soluço que tentei segurar,
quando seguiram seus caminhos?
Meus gritos em suas chegadas!
Meu choro em seus casamentos...
Com os netos às gargalhadas,
do vovô orgulhoso aqui dentro?
Hoje, a casa que tenho é tão minha...
Também a saudade no coração!
Amanhã, se Deus quiser, quando eu partir,
foi chegada a hora de trocá-la de mãos...
(José Geraldo Martinez)
Com suas flores bem cuidadas!
Um ninho na varanda de coleirinha,
que há tempos faz dali a sua morada!
Uma cozinha que preservei,
com paredes borradas de fumaça...
Um fogão à lenha que eu deixei,
a desafiar o tempo que passa!
Naquela cozinha por quantas vezes,
o café perfumava a madrugada...
Não demorava escutar os passos da avozinha,
a caminhar no assoalho da velha casa!
Ali era feito o melhor feijão que conheci...
Um tempero que mais ninguém acertaria!
Rosquinhas de nata e pinga nunca mais vi,
iguais a que vovó fazia!
Na grande varanda as samambaias,
em uma delas um ninho de beija-flor...
Por quantas gerações estariam eles?
Era o xodó do meu avô!
Uma rede desbotada
onde o velho tocava violão.
Quantas vezes sua voz entoava,
quebrando o silêncio da escuridão...
No quintal tem laranjeiras
e alguns pés de bacuris...
Ao canto, o velho pé de jabuticaba,
onde casei-me um dia com Sueli!
Hoje, a casa que tenho é tão minha ...
Está sempre feliz a danada!
Parece que por ela correm as almas
de toda aquela molecada...
A rua era de terra,
passava também boiada!
Hoje virou passado e
de piche foi asfaltada...
Tem noites que ainda escuto
os bois berrando...
O som triste do berrante!
Vovô, ao fundo, todo cuidadoso,
guardando as crianças no mesmo instante...
Noutras eu escuto o trem,
o barulho das rodas no trilho...
Dormia ao colo de mamãe naquele vai-e-vem
feliz e tranquilo!
Hoje, a casa que tenho é tão minha...
Engraçado! Tudo igualzinho na terceira
geração!
Amanhã serão meus filhos a sentirem saudade
doendo no coração?
Escutarão meus risos
quando o lagarto perdia o rabo?
Minha cantoria na rede,
com todos eles ao meu lado?
Minhas piadas sem graça!Afinal, nunca fui bom nisto...
A buzina do meu carro no portão,
quando chegava do serviço?
Nossas pescarias e os
Natais coberto de cores?
Pela noite fria meu fiel compromisso,
de conferir seus cobertores...
Nosso primeiro cãozinho, escutarão o latido?
As histórias de assombração,
contadas aos seus amigos...
Escutarão minhas broncas,
meu violão feito de pinho...
O soluço que tentei segurar,
quando seguiram seus caminhos?
Meus gritos em suas chegadas!
Meu choro em seus casamentos...
Com os netos às gargalhadas,
do vovô orgulhoso aqui dentro?
Hoje, a casa que tenho é tão minha...
Também a saudade no coração!
Amanhã, se Deus quiser, quando eu partir,
foi chegada a hora de trocá-la de mãos...